Quando se fala em bebés e crianças em geral, e das coisas menos boas que eles também trazem, toda a gente fala das noites mal dormidas, do dinheiro que se gasta em fraldas ou do dinheiro que custam os livros para a escola. Eu fico intrigado é com o facto (ainda sou do tempo em que não se confundia factos com vestuário desenhado por estilistas italianos) de ninguém falar daquele Verão (e também sou do tempo em que isto era com letra maiúscula) em que as crianças deixam de querer brincar exclusivamente com baldes e fazer castelos de areia para querer jogar raquetes. É um erro comprar um par de raquetes de praia a crianças com menos de 10 anos sem irmãos. Eles vão querer jogar. Com quem? Exacto, com os pais.
Primeiro, é preciso ensiná-los a pegar na raquete. "Não é com as duas mãos filho..." é normalmente a indicação mais utilizada. Depois, mostrar-lhes como se começa. O pai pega na bola com a mão livre, larga-a um pouco acima da altura da cintura e com a raquete atira-a na direcção do filho. A bola cai no chão. "Vá, agora és tu filho". A criança baixa-se para apanhar a bola, a raquete bate na areia e salta da mão. A criança apanha de novo a raquete, mas como tem a bola na outra mão não consegue pegar na raquete em condições. Larga a bola e agarra a raquete com as duas mãos. É nesta altura que o pai faz a primeira intervenção, para ajudar o filho a pegar na raquete com uma mão. De seguida apanha a bola, põe-lha na outra mão e repete "Vá, agora és tu filho". A criança tem a bola na mão não dominante. O que é que acontece? Exacto. Atira a bola descontroladamente com toda a força para o ar, a bola sobe bem acima da altura dela, passa-lhe por cima da cabeça e cai atrás dela. Aqui o pai opta por intervir apenas verbalmente e diz-lhe "A bola está atrás de ti filho. Tens que atirar a bola ao ar com menos força". A criança apanha a bola e repete o processo umas 7 vezes, até conseguir acertar a primeira vez na bola com a raquete. A raquete sai-lhe disparada da mão. A sorte é que é mais pesada que a bola e cai ali perto. A criança apanha a raquete, o pai apanha a bola e recomeça. Atira a bola na direcção da criança, que não acerta na bola. E recomeça a criança. Mas a bola nunca vai na direcção do pai. Lá vai o pai, areia fora atrás da bola. E o processo repete-se até à hora em que acaba a digestão e já se pode ir à água. Se fizessem um daqueles mapas "hot zone" do espaço ocupado pelos 2 durante este período, a criança teria andado num raio de 1.5m e o pai teria pisado 1984 vezes todos os grãos de areia de um círculo com centro no filho e raio de 15m. Isto todos os dias, até quase ao final das 2 semanas de férias na praia, se o pai tiver paciência. Não é raro ao fim das primeiras 5 vezes ouvir-se um "Olha, vai pedir à mãe que te ensine, vai lá..."
Eu acho-lhe uma graça...!
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