Sofremos golo? Troca. Menos aquele que tem óculos e diz logo que não vai, porque tem medo de partir os óculos. Toda a gente percebe que é uma desculpa para não ir à baliza, mas como ninguém quer parecer moralmente reprovável, aceitam que ele não vá à baliza. Mas ele só faz isso uma vez, normalmente depois nunca mais é chamado para os jogos. Ah, e nesse jogo ninguém lhe passa a bola, claro. Também há aquele que diz assim "ah e tal, é melhor eu não ir, porque sou muito mau na baliza..." na esperança de não lhe calhar a vez. Ahahaha! Este vai na mesma, e sofre uma frangalhada que toda a gente vê que foi de propósito para sair da baliza rapidamente. Nesse caso fica na baliza outra vez que é para não se armar em esperto e ainda ouve uns nomes, sendo que os mais simpáticos devem ser algo como "oh mãos de aranhiço" ou "frangueiro de m**da". No caso de o GR sofrer uma frangalhada inacreditável mas não propositada (que às vezes é difícil distinguir, de tão inacreditável que é), os colegas de equipa não lhe chamam nomes mas viram-se para a frente para fazer caras feias e para recomeçar a jogar rapidamente, sem lhe dizer nada. E ele é obrigado a ficar na baliza mais uma ronda até sofrer golo outra vez. Ou até a própria equipa marcar 2 golos, que corresponde sensivelmente a um tempo razoável para trocar o GR que está a portar-se bem e a defender em condições. Se marcarmos 2 golos antes de sofrer, em princípio já passou tempo suficiente, porque 2 golos ainda demora a marcar. É outro critério para trocar o GR.
E como é que se decide a ordem pela qual os jogadores vão rodando pela baliza? É logo no início, antes de começar a jogar, e basicamente é por ordem de chegada. Depois de se definirem as equipas, em cada equipa os jogadores vão dizendo "sou o último a ir à baliza", "eu sou o penúltimo", etc... e aqui chamo a vossa atenção, porque escolher a posição na lista de troca de GR tem ciência! Vou desvendar as minhas tácticas para não ir à baliza nos jogos da bola com os meus amigos. Sim, isso mesmo. Tenho 2 tácticas preferidas, que vou utilizando consoante o perfil dos colegas que me calham na equipa.
1. Táctica do meio (é a minha preferida, a que resulta mais vezes)
Escolho ser "o terceiro a ir à baliza". Porquê... vai o primeiro, tudo bem, ainda está tudo cheio de vontade de jogar, a correr que nem uns doidos. Marcamos golo, sofremos golo, troca o GR. Vai o segundo. Tudo bem, segue o jogo. Com sorte, antes de sofrermos golo conseguimos marcar 2 golos, o que leva mais algum tempo. Marcámos 2, troca. É o terceiro (eu), mas... há SEMPRE um gajo que já está cansado e pede "deixa-me ir eu agora à baliza para descansar um bocado". Tudo bem. Segue o jogo, marcamos golo, sofremos golo, troca. Quem é? O quarto. Segue o jogo. Nisto, quem é que NÃO foi à baliza... exacto, o terceiro! E vocês agora pensam assim, se ele dissesse que era o último ainda era melhor, porque havia mais gajos cansados. Falso. Quando chega ao último já está tudo cansado, incluindo eu, e já toda a gente quer ir para a baliza na sua vez, para descansar. Ou seja, esta táctica do meio permite-me não ir à baliza e continuar a jogar quando ainda consigo respirar. Não precisam agradecer.
2. Táctica do baralha e volta dar (só resulta às vezes, é táctica de recurso)
Se alguém se antecipar a dizer que é o terceiro (porque já me toparam) digo logo assim "sou a seguir ao último". O que é que acontece... uns nem se apercebem que a seguir ao último não há ninguém, e deixam-me ficar com essa posição. Para esses nunca chegará a minha vez de ir à baliza. Os outros ficam ali a discutir comigo se "a seguir ao último é o primeiro" ou não. E eu prolongo a discussão até a outra equipa começar a chatear para começar a jogar, porque estamos a perder tempo. A este ponto, o importante é não dar o braço a torcer e não aceitar que "depois do último" é o primeiro. O que é que acontece, há SEMPRE alguém que aceita começar na baliza, só para o jogo iniciar. Obviamente esse que começa na baliza não tinha escolhido ser o primeiro, porque ninguém escolhe ser o primeiro. Resultado: baralha e volta a dar, e eu escolho ser "o terceiro a ir à baliza".
Eu acho-lhe uma graça...!
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