segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Encapar a realidade

O regresso às aulas é sempre um momento importante quando se anda na escola. Durante as últimas semanas das férias, que duravam apenas uns 3 meses, já só se pensava em ir buscar os livros da escola à papelaria, 2 ou 3 rolos de papel autocolante, e ENCAPAR os livros. Este era o momento alto da rentrée, a par de escolher a mochila nova (de 2 em 2 anos, que não é para estragar logo tudo!). O encapanço tinha que ficar perfeito. Esse processo, quase poético, passava por:

- Escolher um dia para encapar os livros. Sim, porque era uma actividade demasiado importante para ser "quando for". Não, vai ser no dia marcado, escolhido criteriosamente no calendário. A menos que algum amigo viesse chamar para ir jogar à bola na rua, claro, não exageremos.

- Desocupar a mesa maior da casa. Normalmente era a mesa de jantar da sala, que tinha uma fila de  cassettes VHS a meio, empinadas, a fazer de rede para jogar ping pong. Estes jogos acabavam sempre à bulha porque as cassettes caíam e era por onde a bola passava mais cedo ou mais tarde. E depois decidir se tinha sido por cima da rede ou não era impossível, na ausência de um juiz oficial do jogo. Normalmente o juiz aparecia por causa da guerra que se seguia e a discussão acabava ali, com uma palmada em cada um.

- Posicionar na mesa todo o material necessário para a execução da tarefa. O monte dos livros novos, naturalmente. O papel autocolante em rolo, com aquele quadriculado azul em fundo branco que cobria a face com cola e que dava um jeitão para fazer os cortes; eu tenho para mim que o papel tinha esse quadriculado propositadamente. Uma tesoura, que era a tesoura de costura da mãe, que era maior e cortava melhor. E por último, mas não menos importante, uma régua. Até certa altura era uma de 20 cm, não havia outra, mas o aparecimento da régua de 50 cm de EVT (Educação Visual e Tecnológica) foi o equivalente à revolução industrial  no encapanço de livros.

- Abrir uma porção generosa do rolo de papel autocolante e segurar a ponta com um dos livros. Colocar um livro no centro do papel, deixando 2 a 3 cm de margem a partir do limite do papel, dobrar o papel por cima do livro (porque o papel tem que cobrir as duas capas, não se esqueçam!) e cortar do outro lado deixando novamente 2 a 3 cm do bordo do livro. Primeiro fazer um pequeno corte no sítio certo, para marcar, e depois tirar o livro, virar o papel ao contrário e cortar tudo, deixando deslizar a tesoura ao longo da linha azul (do quadriculado). Escusado será dizer que a meio o papel enrolava-se todo por cima da tesoura e o corte parecia mais o circuiro de F1 do Mónaco.

- A partir daqui é que era preciso mãozinhas. Para começar, pousar o livro de lado com o bordo "solto" para nós (não a lombada, o bordo das páginas soltas), descolar uma faixa do papel autocolante (sem pôr os dedões no que ia ficar por cima do livro, para nõa ficar logo tudo marcado!) e colar essa faixa estreita de papel autocolando o mais paralelo possível ao bordo do livro (dependendo do quanto o corte parecia um circuito de corridas, nem sempre era fácil).

- Ponto crítico. Com uma mão puxar o papel quadriculado atrás para ir soltando a película autocolante e com a outra empurrar o autocolante para baixo e para a frente, utilizando a régua para evitar que se formassem bolhas de ar. Já estão a ver que a régua de 20 cm muitas vezes era mais pequena que a largura do livro, o que exigia alguma perícia para ir colando tudo direitinho na largura toda do livro. Se ficava alguma bolha era o caos. Voltar a descolar para sair o ar muitas vezes não dava porque a bolha já tinha ficado muito atrás, e descolar e voltar a colar ficava tudo marcado com um risco esbranquiçado de cola no sítio do desastre. Às vezes, se fosse suficientementepróximo da "frente de batalha" (que é como quem diz, do limite do papel já descolado) dava para ir empurrando a bolha de ar com a régua até ela sair (alívio!). Se fosse demasiado tarde, a alternativa era fazer um furinho minúsculo na bolha para deixar sair o ar. Mas se o furo fosse maior que minúsculo (como acontecia utilizando o bico da tesoura em vez de um alfinete) ficava uma cratera pequenina mas saliente no papel autocolante. De tal forma que os livros de quem não tinha muito jeito para evitar as bolhas pareciam um ferrero rocher. Mas o pior de tudo era quando se fazia uma gelha e ela colava. Horrível. As maiores davam mesmo vontade de pedir aos pais para comprar outro livro novo, igual, só para começar de novo. Da primeira vez achei que aquela resposta "sim filho, vou já lá amanhã" era verdadeira e deixei esse livro para o dia seguinte (ou por isso ou porque alguém veio chamar para ir jogar à bola, já não me lembro bem). Depois percebi que a única solução era nunca mostrar essa tragédia a ninguém, deixando portanto esse(s) livro(s) em casa. Como consequência, ou acumulava faltas de material ou não estudava por esse(s) livro(s). E esta é, certamente, uma das primeiras capacidades que distinguem os bons dos maus alunos. Eu tenho a certeza que há uma relação entre a habilidade de encapanço e as notas. Eu hoje podia ser um Einstein, se não tivesse feito aquelas gelhas no livro de Ciências Físico-Químicas do 8º ano. A determinada altura, vindo sei lá de onde, surgiu a ideia de que puxar o quadriculado todo de uma vez de forma a colar practicamente a face inteira do livro de uma gesto funcionava bem. Nem vou comentar...! Chegando à lombada, colá-la, virar o livro e repetir, até ao fim do livro. Mas não pensem que chegar ao fim sem bolhas e gelhas era garantia de sucesso fácil. Se as margens foseem muito grandes, as de cima dobravam com o peso e colavam-se às debaixo. Isto não era crítico ao ponto de estragar o trabalaho, porque as margens do papel autocolante ficavam para dentro, mas dava algum trabalho conseguir descolar as margens e mantê-las separadas. Foi para isso que o criador nos deu 10 dedos, foi aí que percebi.

- Depois das faces coladas vinha a finalização, cortar uma cunha no papel autocolante junto aos cantos das faces do livro e dobrar as margens para dentro. O corte tinha que ser exactamente a partir dos cantos das capas, para ficar o mínimo de bordo da capa descoberto. A mesma coisa junto à lombada, lembrando que para virar a margem junto à lombada tinha que se levantar as folhas, correndo o risco de puxá-las de mais e estragar a colagem das folhas na lombada da capa.

No fim do trabalho feito era um orgulho... até jantava 2 vezes, para encher o peito (ou porque tinha andado a tarde toda a jogar à bola, também é possível). Quem encapava os livros em condições estava pronto para a escola dos livros e para a escola da vida. Que no caso de quem andou na escola da Pedrulha eram as duas a mesma. Eu considero que sempre passei com distinção nesta tarefa, ano após ano. E é com bastante tristeza que dou por mim um dia destes a ouvir no rádio uma publicidade a anunciar um serviço (pago, claro!) de encapanço de livros numa papelaria. As lágrimas até me vieram aos olhos. Que Mundo é este? É isto que queremos para as nossas crianças? Que cresçam sem saber encapar os próprios livros da escola? Sem saber desfazer bolhas? Sem aguentar a pressão de lidar com as gelhas do livro de Matemática. E ainda me querem fazer acreditar que o COVID é que é perigoso? Eu acho-lhe uma graça...!

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Barba-me-quer, barba-não-me-quer

No fim de semana fui cortar a barba. Cortei eu próprio, com uma maquinetazita aparadora que tenho em casa, arrisquei tudo e não fui ao barbeiro. Desculpem, barbeiro não, não fui à barber shop, assim é que é. Barbeiros era antigamente.
Foram 10 minutos deprimentes... Não esperei 15 minutos pela minha vez, enquanto o barbeiro... desculpem, enquanto o estilista das barbas olhava para a CMTV e dava umas tesouradas no ar, só para fazer barulho, e consequentemente não li um Diário de Coimbra do mês passado. Não lavei a barba antes com água morna (não é fria nem quente, é exactamente à temperatura certa, que demora uns 5 minutos a encontrar), e consequentemente não fiquei com um estiramento dos músculos do pescoço por causa de esticar tanto o pescoço para a cabeça ficar em cima daquela espécie de bacia, nem fiquei com os ouvidos cheios de água. Tirei a camisola e no fim tomei banho, não pus aquele colarinho de tecido hipoalergénico feito de pele de uma determinada parte das andorinhas, que deixa passar os pêlos todos na mesma. Não penteei a barba antes de a cortar, com um pente de dentes nem muito largos nem muito finos, exactamente com 1.2mm de espaçamento. Não tive que fazer cara de estúpido quando alguém me pergunta "então o que é que vamos fazer a esta barbinha?" e não posso só dizer "cortar". Aparentemente nas barbearias modernas (as tais barber shops) não se cortam simplesmente barbas, tem que se ter um plano. "Então mas depois não é para deixar crescer alinhada com 3/4 do queixo e na intersecção da orelha com o lábio superior, com um ângulo de 45º?". Ora bem... NÃO. Eu não tenho um plano, deixo crescer livremente, e quando pareço um mendigo corto. Toda. Normalmente é isso. Não faço risquinhos a lápis, ou giz ou lá o que é aquilo, por cima da barba para depois aparar seguindo as instruções. Com 3 máquinas diferentes! Que a máquina que passa por baixo do queixo não é a mesma que passa à volta dos lábios, muito menos é a que vai ao encontro das patilhas. E não pus aquela espécie óleo no fim. "Pois, nota-se que não põe, esta barba nunca viu óleozinho". Pois não. Por favor não façam queixa à segurança social. Ainda me tiram a barba. Eu tenho pouca mas de vez em quando dá jeito, quando corto ando ali 3 ou 4 dias que parece que tomei banho há 10 minutos e poupa-se bastante na água. Ah, mas também não paguei 250€ pelo serviço. Uma tristeza.
Eu acho-lhes uma graça...!

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

É para quê?... O que é que isso interessa?! É 1€ para cá.

Rifas. Rifas para a festa de Natal da escola dos filhos, rifas para o torneio de Natal de futebol dos filhos, rifas para a festa Verão da terra, rifas para arranjar o cruzeiro da aldeia, rifas para os escuteiros, rifas para tudo. Um dos melhores negócios do Mundo. Imprimem meia dúzia de papelinhos com números, escrevem lá que têm um leitão assado para oferecer, está feito. Quem é que não gosta de leitão? (Calem-se! Vocês nem merecem o ar que respiram) Em menos de nada têm 20€ no bolso. Se imprimirem muitos, dá para ir de férias. Sempre sem leitão! (É um truque grátis que vos deixo para irem às Maldivas no próximo Verão. Aproveitem, tem menos gente que a Quarteira) Sem leitão? Sim, sem leitão, claro. Ninguém compra rifas pela possibilidade de ganhar o prémio. Todos sabemos que nunca sai o prémio, porque não há prémio...! Mas se o prémio for leitão eu compro duas em vez de uma. Rende mais. Não têm jeito para vender rifas? Em teoria é fácil. O ponto crítico é chegar à pergunta "É para quê?". Se lá chegarem, não há como passar ao próximo de mãos a abanar. Ninguém recusa comprar uma rifa ou duas depois de perguntar para que é. Ou vos mandam logo ir pentear macacos, mas hoje em dia não se pode porque é maus tratos aos animais ou lá o que é, ou então se perguntam para que são as rifas, está no papo. Se não conseguirem lá chegar, como é que fazem? Fazem como eu fazia, dão o livro das rifas ao avô. É garantido, nem pergunta para que é. Só quanto é que custa o livro todo. E para o avô é sempre mais 2€, para o gelado.
Eu... obrigado avô!

PS: Pessoal do IRA, eu não tenho leitões em casa. Nunca tive. Infelizmente.

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Emoji fofo dos papás

Mas qual é a ideia de mostrar fotos dos bebés com emojis gigantes por cima da cara deles? Não percebo o propósito... É para mostrar a toda a gente que têm um bebé? Já sabíamos disso por causa das 70 fotos de grávida que puseram antes de ele nascer. E eu sei lá se é o vosso bebé. Pode ser um qualquer. Com os emojis são todos iguais! Mostrar fotos dessas é mais ou menos a mesma coisa que seria se o Leonardo da Vinci tivesse pintado a Mona Lisa e agora o pessoal do Louvre a tivesse exposta com a máscara do Scream. Ou editarem-se álbuns com a música dos Queen mas com a letra do "toda a noooooite" do Toy sobreposta. O equivalente literário disso seria o quê? Talvez edições d'Os Lusíadas em que todos os cantos tinham a história dos três porquinhos por cima de metade das estrofes."Mas qual era o sentido disso?". Pois... esse é o ponto.
Eu acho-lhe uma graça...!

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Vai dormir que o teu mal é sono

Os bebés são tão lindos e fofos. São a melhor coisa do Mundo. Nos primeiros 10 minutos. Quando chegam ao colo do pai ou no carrinho empurrado pela mãe, são apetecíveis. Só apetece agarrá-los, mordê-los, beijá-los, apertá-los, pegar-lhes, pôr-lhes o dedo nãos mãozitas para eles apertarem... Sim, sim! Digam lá não põem o dedo mesmo a jeito de o bebé lhe pegar e apertar e depois ficam ali todos babados com essa interacção, a dizer "olha, já aperta com uma força... e não larga!" (que novidade). Pois, eu sei. É tudo maravilhoso. Até o bebé começar a espernear e a chorar. Por vocês ele ficava a apertar-vos o dedo até à noite, mas, como é que digo isto... é um bebé. Vai cansar-se de vocês. Vai querer a mãe, ou o pai, ou uma bolacha, ou ir para o chão, ou simplesmente sair do vosso colo. Por muito que isso vos custe. Escusam de tentar interagir infinitamente com ele, não vai resultar. E é normal. Se pensarem bem, para os bebés, vocês não são apetecíveis na mesma proporção. E não há mal nenhum nisso. Não são vocês que não gostam ou não têm jeito para os bebés. Nem significa que o bebé não gosta de vocês. É mesmo assim, ele é um bebé. Mas eu percebo a frustração. O bebé tem que gostar de vocês a todo o custo, não é? Senão o que é que vão pensar de vocês... Eu vou ajudar-vos. Vou ensinar-vos um truque para saírem airosamente dessa situação. Para que toda a gente à volta fique com a ideia de que vocês têm mega-jeito para bebés, e que ainda por cima sabem lidar super-bem com eles, quando o bebé começar a espernear e a chorar basta dizerem isto: "Está com sono. Este bebé precisa de dormir.". Tau! Infalível! O bebé não está farto de vocês, ele precisa é de dormir... sempre, passado 10 minutos... todos os bebés...
Eu acho-lhe uma graça...!

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Primeiro Parabéns, depois o resto

Cuidado. Quando querem dar os Parabéns a alguém, comecem a conversa logo com "Parabéns!". Não se ponham a falar de outras coisas antes. Começar a conversa com "Então, está tudo bem?" ou "Como é que estás?" tem tudo para resultar numa espiral de indecisão sobre quando é que é razoável interromper para finalmente dar os Parabéns. Está o aniversariante do outro lado a pensar que vocês estão interessados em ouvir o que ele está a dizer, tipo "Epá, ando aqui à rasca das costas, mal consigo andar", e vocês "Ah... olha, Parabéns". Ai é?! O que é que isso tem de bom?! Ao menos aproveitem para fazer a revienga, "Pois, a idade não perdoa, não é... olha, Parabéns". E dêem-se por contentes se tiverem essa oportunidade, porque ela pode nem sequer chegar! Se falham a entrada, depois tudo pode acontecer. Ontem estive meia hora ao telefone com um amigo e ele não me deu os Parabéns. Depois de desligar mandou-me uma SMS a dizer "Parabéns".
Eu acho-lhe uma graça...!

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

Sem capot, caput!

O que é que se faz se houver um acidente que envolva apenas motas?  Ou só autocarros mas não veículos ligeiros? Porquê?! Ah, pois... porquê... por acaso as motas têm "capot"? E os autocarros, têm? Pois, não! Aí está porquê. Onde é que se preenche a declaração amigável de acidente automóvel? No chão?! Sobe-se para o tejadilho do autocarro? E se for daqueles com varas...?
Toda a gente sabe que as declarações amigáveis de acidente automóvel devem ser preenchidas em cima do "capot" de um carro. Se possível com o rabo empinado para o meio da estrada, para atrapalhar mais os outros condutores. Eu nunca tive nenhum acidente, portanto nunca preenchi nenhuma declaração amigável de acidente, mas estou convencido que é obrigatório preenchê-la em cima do "capot". Nunca vi ser feito de outra maneira. Mesmo que esteja a chover. Aposto que as instruções de preenchimento devem dizer "o culpado é responsável por possuir ou angariar um guarda-chuva e segurá-lo por cima do inocente enquanto este preenche a declaração, em cima do "capot" do veículo", para não dar possibilidade ao culpado de aldrabar o esquema do acidente, claro. Excepto quando chamam a polícia e eles vêm com aquela carrinha que parece uma auto-caravana de férias, com uma mesinha e uns bancos lá dentro. Um luxo. Assim também eu. Mas se um acidente não envolver nenhum veículo ligeiro, onde é que é suposto preencher-se a declaração amigável? Não há "capot"... E se for à hora de um jogo do Benfica? Também não há polícia! Com isto ninguém se preocupa. Espertos são os gajos da Telepizza. Porque é que acham que aquelas motoretas dos estafetas que andam sempre a abrir têm aquelas maletas tão grandes? Óbvio. Não é só para levar as pizzas! É para preencher as declarações e para levar o guarda-chuva. Sim, porque duvido que algum acidente em que eles se envolvam não seja por culpa deles.
Eu acho-lhe uma graça...!

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Ricos pais

Qual é o melhor negócio do Mundo?
OK... esse também. Mas estou a pensar em negócios legais. Coisas para bebés. Comida, roupa, calçado, brinquedos, etc. Vocês já pensaram na relação custo/[tempo de vida; rendimento; número de utilizações; utilidade]? É mais baixa que a probabilidade de acertar no Euromilhões. E não dá para fazer sociedades. No vestuário e calçado, como é que seria? "Olha, compramos estes sapatinhos para os bebés, depois se servir o meu usa o esquerdo, o teu usa o direito"?! Sim, se servir. Estima-se que metade do calçado e roupa para bebés nunca chega a servir ao destinatário. (Quem é que estima? Eu. Mas esta expressão dá um ar profissional à coisa.) E os próprios pais é que fazem subir esta média, porque se considerarmos apenas ofertas de terceiros, então é practicamente zero. Mesmo os pais, é uma lotaria. Eu aposto que se comprarem duas camisolas iguaizinhas e vestirem uma ao bebé de manhã antes de ir para a creche, quando forem buscá-lo à tarde a outra já não lhe serve. A que vestiram de manhã serve mas o bebé já vem com os punhos das mangas nos cotovelos a fazer garrote e com a barriga à mostra, com a camisola por cima do umbigo. Eu, já para não haver confusões, quando tenho que comprar coisas para bebés ofereço sempre tamanho M. Depois digo "É um bocadinho grande? O tempo passa a voar, vais ver.". E mesmo que só lhes sirva aos 15 anos, podem sempre usar mais tarde, os fatos-treino pele de pêssego nunca passam de moda. Safo-me sempre.
Comida. Maior desperdício de sempre. De uma panela de sopa deve-se aproveitar umas 3 ou 4 colheres. O resto vai tudo direitinho para o babete ou para a camisola. Se for ao almoço... Se for à noite já cai na barriga.
Brinquedos. Duram menos que as casas pré-fabricadas dos Haitianos. Uma vez fui a uma festa de aniversário de um bebé e levei um livro daqueles que quando as páginas abrem abrem-se também uns animais em 3D, com umas esculturas em cartão. Todo bonito, e tal. Abri, e ia mostrar ao bebé. Mas era uma festa. Tinha outros bebés e crianças. Ainda o aniversariante não tinha olhado para o livro, já um dos amigos dele tinha arrancado os elefantes e os leões da Arca de Noé. Conclusão, aquela mini-pessoa vai nunca vai saber como é que os elefantes e leões chegaram aos dias de hoje! E ainda ficaram chateados comigo só porque disse ao bebé que arrancou aquilo que agora ia ter que colar aquilo tudo com a língua. Enfim... Agora ofereço só caixas embrulhadas em papel colorido. É mais barato, vai dar ao mesmo, e de qualquer maneira eles só querem rasgar o papel.
Mas o pior, é que é tudo caríssimo. É para bebé? Sobre o preço em 75%. Em promoção! Se for equipamento de segurança então... como aqueles meus amigos que foram comprar uma cadeirinha de transporte no carro a achar que conseguiam fazer um bom negócio. "Se calhar levo esta cadeirinha de transporte, parece-me igualmente boa e é mais barata." - "Tem a certeza? Olhe que esta é mais cara por alguma razão. Isto é outra coisa, não tem nada a ver. E está com 50% de desconto.". O que é que isso quer dizer?! Porque é que não tem nada a ver? Tecnicamente é melhor? É pior? Porquê... Porquê!? É outra coisa? Pois claro que é, isso vê-se. Seria muitíssimo estúpido pedir mais 500€ por uma cadeirinha igual a outra. Em promoção!! Mas se esta custa um balúrdio é porque deve ser melhor. Ainda por cima tem este desenho vermelho aqui de lado e o revestimento cinzento em vez de azul, deve ser muito melhor, realmente! "Pronto, é para a bebé, levo a melhor.". Passado duas semanas, a bebé continua a conseguir desenfiar os braços dos cintos e esgueirar-se da cadeira. Vão à loja, humildemente perguntar "Olhe, se calhar somos nós que estamos a fazer alguma coisa mal... mas como é que a caderinha funciona? A bebé continua a conseguir sair da cadeira sozinha..." - "Pois, já tem acontecido. O melhor é ensinar o bebé (de 9 meses) a não tirar os braços de dentro dos cintos.". Ai é? É assim tão fácil?! "Mas não se preocupe, se não conseguir, a cadeirinha funciona perfeitamente com esta peça extra que vendemos separadamente por mais 10€.". A sério?! É isso que resolve? Se eu soubesse que era só ensinar um bebé de 9 meses a estar quieto e não tentar sair de uma cadeira que está a prendê-lo, ou que aquilo funciona com uma peça que prende os cintos um ao outro, se calhar tinha levado uma mais barata e ia aos chineses comprar um fio para prender os cintos ou assim. "Esta que custa metade do preço também acontece, mas a peça resolve na mesma. Mas não é a mesma coisa. Esta não tem nada a ver.". Se calhar a nova versão já vem com a peça incluída, mas pelo dobro do preço, claro. Em promoção.
Eu acho-lhe uma graça...!

terça-feira, 13 de junho de 2017

Mach Vileda

Há 341 anos o astrónomo dinamarquês Ole Romer determinou a velocidade da luz, ao estimar os eclipses de uma lua de Júpiter. A descoberta foi controversa e apenas quase duas décadas depois da sua morte o cálculo foi confirmado, como acontece com quase todas as grandes descobertas. Pois bem, preparem-se para recordar o meu nome daqui a uns anos. Sim, fiz uma grande descoberta! Descobri a velocidade da transmissão de informação da vida privada de terceiros por empregadas de limpeza. Atenção, tenho todo o respeito por esta profissão, que é tão digna quanto qualquer outra. Excepto, obviamente, quando estas profissionais transmitem informação da minha vida privada. Também não quero ser acusado de machismo, como aconteceu ao Gerrard aí há uns dias, por isso devo também dizer que não tenho nenhum preconceito relativamente à ocupação desta profissão por homens, desde que não seja eu, claro. Mas só porque não gosto, não que veja nisso algum problema.
Bom, dito isto, voltemos ao que interessa. Toda a gente sabe que uma "novidade" é revelada pela senhora da limpeza "em menos de nada". Mas quanto é "menos de nada"? Esta é a questão. Apesar de ser um fenómeno muito antigo e sobejamente conhecido, nunca ninguém o quantificou. Até hoje, porque eu descobri a resposta. Eis a fórmula:

velocidade = c + (e^-a)*n
c = velocidade do som, determinada pelo dinamarquês; a = constante de afinidade por ti; n = número de coisas desarrumadas em cima da mesa.

Parece complicada? Não é. Vejamos.
Podem desde já verificar que a velocidade com que a senhora da limpeza conta coisas sobre ti é, no mínimo, igual à velocidade do som. O que é tão interessante como fácil de perceber: se os termos seguintes se anularem, a informação propaga-se à mesma velocidade com que é dita, de viva voz, ao próximo. Ou aos próximos 10, se estiverem todos junto à máquina do café.
No entanto a velocidade pode tomar valores tanto maiores quanto menor é a constante de afinidade da senhora da limpeza por nós e quanto maior é o número de coisas desarrumadas em cima da mesa que ela deve limpar. Note-se que o efeito da afinidade é exponencial. Se ela não gostar de ti, nem que seja só um bocadinho, já foste. Não menos considerável é o efeito do número de coisas desarrumadas em cima da mesa, não só porque as irrita como aumenta a probabilidade de encontrarem coisas sobre nós. Devo dizer que testei esta fórmula exaustivamente no que respeita ao número de coisas espalhadas em cima da mesa, desde 0 (o trabalhão que me deu arrumar aquilo tudo...) até "não se vê o tampo da mesa" e essa parte da equação é exacta! Já na parte da afinidade posso admitir algum desvio do valor real, uma vez que nunca consegui uma estimativa melhor do que um termo binário, gosta ou não gosta de mim, que é basicamente 1 se ela me diz "bom dia" ou 0 se passa por mim como se eu não existisse e deixa cair levemente o pano no cantinho da minha mesa, como quem diz "não arrumes isso, não... 'tás cá com uma sorte".
Eu acho-lhe uma graça...!

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Não és homem nem és nada

Eu ainda sou do tempo em que a corrupção se fazia sem dinheiro, entre homens! Não havia cá notas por baixo da mesa, vouchers para restaurantes gourmet ou contas na Suíça em nomes de (grandes!) amigos. Se alguém precisava que um amigo fizesse alguma coisa, normalmente uma asneira das grandes (ou seja, o motivo mantém-se), bastava proferir a mítica e inexorável afirmação retórica "não és homem, nem és nada!", e estava feito. Podia ser a coisa mais estúpida, mais imbecil, mais perigosa, mais desonesta, mais reprovável... se alguém ousasse dizer estas palavras, era certinho que o amigo ia fazê-lo. Pela honra, claro! Como hoje. Só que na altura tínhamos 14 anos e fechar o amigo todo nu fora de casa não fazia assim tanto mal aos outros.
Eu acho-lhe uma graça...!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Facebook, o pior amigo dos aniversariantes

O Facebook definitivamente veio mudar o Mundo. Em muitas coisas, para melhor. Mas noutras, para bem pior, como no caso dos aniversários. Se eu nunca soube o que fazer quando me cantam os Parabéns, uma questão que aliás já discuti publicamente, hoje em dia nem sequer sei o que pode acontecer no meu dia de anos. Antes do Facebook recebíamos telefonemas da família e de dois ou três amigos, algumas SMS, e calduços de todos os colegas da turma, tantos quantos o número de anos completados. Eram bons tempos...! Depois do Facebook, isto mudou. Continuamos a receber telefonemas da família, e ainda bem. Quem não gosta do telefonema da avó a dar os Parabéns, ano após ano a dizer "ai filho, parece que foi ontem que nasceste...", e sobretudo, quem não gosta de saber o tempo que fez na terra da avó na semana inteira antes do seu dia de aniversário?! Mas há coisas novas. Por exemplo, recebemos na mesma o telefonema da mãe, mas já depois dela partilhar com toda a gente fotografias nossas de quando éramos pequenos no Facebook. O que é muitíssimo perigoso. Se há anos em que calha a partilhar uma fotografia de nós quando éramos bebés, estamos safos. Dezenas de likes e comentários "Ah, que fofinhos. Parabéns pelos amores maravilhosos, e tal... </corações; beijinhos; trevos de 4 folhas>". Mas às vezes calha-nos a partilha de fotos de quando tínhamos por exemplo 14 anos... e aí a nossa reputação leva uma tareia das antigas. Uma vez tive que bloquear comentários de amigos durante 15 dias! O mais simpático devia ser "Parabéns... por teres sobrevivido a ti próprio </chorar de rir; língua de fora; sorriso com óculos escuros>".
Eu acho-lhe uma graça...!

sábado, 21 de janeiro de 2017

MALTA ONDE É QUE VAMOS?! Para casa, claro...

Todos sabemos que os festejos de aniversário com amigos não podem acabar no final do jantar. É quase obrigatório ir beber um copo a algum lado. O problema é quando chegas aquela idade em que os teus amigos, mais ou menos da mesma idade, já não querem ir beber copo nenhum, querem é ir para casa beber água das pedras e dormir. Mas ninguém diz! Vão pagando e tal, vão vestindo os casacos, o aniversariante sempre a pedir sugestões para a próxima paragem da malta "ENTÃO PESSOAL, ONDE É QUE VAMOS A SEGUIR?!", normalmente já em tom de 2 jarros de sangria... e tudo caladinho. Vão saindo, todos atrás do mais desesperado por ir para casa vestir o pijama e calçar as meias grossas. Mas como ninguém quer assumir que já só quer é mantas, ficam todos à porta. A conversar, a queixar-se do frio, a comentar em tom disfarçadamente ansioso "Epá, já são estas horas...". Toda a gente percebe o que quer dizer isto, não é... Excepto o aniversariante! Chega, sem frio nenhum, e continua a sua cruzada "MALTA, TUDO PARA O SÍTIO DO COSTUME!" (aquele bar onde costumavam ir quando ainda não tinham esta quantidade de primaveras nos ossos). Até que o primeiro corajoso dá o corpo às balas "Olha, eu não vou... Hoje passo." e leva imediatamente com a rajada mais crente do aniversariante "O QUÊ?! AI VAIS, VAIS! NINGUÉM ABANDONA. VAMOS LÁ". Não percebe que não só a batalha está perdida, como metade das tropas vai aproveitar e bater em retirada. É vê-los uns atrás dos outros, quase como se tivessem tirado a senha do adeus, "Pronto, nós também vamos. Amanhã temos que acordar cedo" e o aniversariante cada vez mais descrente, mas sempre inconformado "OUTRO?! VÁ LÁ, SÓ UM BOCADINHO...". Até ficar só o aniversariante, a companheira, que também quer ir embora mas sabe que tem que ficar até ao fim para levar o carro, dois ou três amigos que beberam o resto da sangria e não têm frio, e o mais novo do jantar, que tem uns 20 anos e vai com eles mas já a mandar mensagens aos outros amigos novos a perguntar onde é que estão para ir ter com eles.
Tenho um conselho para a malta que já tem que passar por isto. Não fiquem para o fim da fila, as desculpas começam a ser cada vez menos credíveis e já toda a gente percebeu que vão para casa dormir como os outros que não têm nada para fazer "amanhã" cedo. Mesmo que seja verdade quando dizem "amanhã tenho que ir fazer análises", já houve três ou quatro que disseram isso primeiro.
Eu acho-lhe uma graça...!

sábado, 7 de janeiro de 2017

Natal é doces, Natal é convívio, Natal é alegria

Ontem foi dia de Reis, parece que o Natal acabou.
Deixo aqui o meu top de respostas à minha pergunta "Então o teu Natal foi bom?":

1. (Com cara triste...) A minha avó não sabe fazer arroz doce. (Homem, ~9 anos)

2. Estive com a minha prima, ela só vem cá cerca de 2 vezes por ano - Onde é que mora a tua prima? No Brasil? - Não, em Aveiro. (Homem, ~6 anos)

3. Uma merda. (Mulher, ~27 anos)

Tive pena dos 3...!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

O novo Presidente de mercúrio

O nosso Presidente foi dar o primeiro mergulho de 2017 no primeiro dia do ano, na mesma praia em Cascais, onde tinha estado no dia anterior, último dia do ano, para o último mergulho de 2016. A imprensa sublinhou coisas inúteis como "em outros anos teve a companhia dos filhos mas este ano deu um mergulho sozinho", "chegou a falar em alemão com alguns turistas" ou "não recomendou a tradição a ninguém"... e não houve uma única referência ao super-poder de Marcelo Rebelo de Sousa, o de medir a temperatura da água com exactidão até às décimas, sem recurso a qualquer instrumento. Pior, ninguém reflectiu sobre as implicações que isto traz para o emprego em Portugal. Que não me parecem as melhores! Quando lhe perguntaram como estava a água, Marcelo respondeu "está mais quente que ontem, ontem estavam 14.7º, mas eu não acho que esteja 16.1º, acho menos". Portanto, sente uma diferença de temperatura inferior a 1.4º. Marcelo é practicamente um termómetro humano. Entra na água, dá duas braçadas, e arrasa o trabalho de meia dúzia de colaboradores do Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Sim, porque quando descobrirem que o Marcelo só precisa dos pêlos do peito, em princípio, para fazer o que essa malta faz com equipamentos caríssimos... e ainda por cima falham sempre! Pela amostra, o casamento de Marcelo com o Governo é coisa do ano passado (cá está, a piada-cliché na referência a algo que aconteceu 1 dia ou 2 depois da passagem de ano e portanto já não acontecia desde o ano passado).
Eu acho-lhe uma graça...!

terça-feira, 20 de dezembro de 2016

Os cara de joelho

Recentemente escrevi um pequeno texto, que gerou alguma controvérsia, sobre uma lei moral (em princípio lei da física não é..) que nos obriga a identificar a árvore genealógica de um bebé, só de olhar para ele. Mais do que ter uma opinião sobre se o bebé é bonito ou feio, o que importa é não falhar na identificação do nariz do avô e do sorriso de uma tia da mãe, em terceiro grau. Até parece que o bebé não é uma nova pessoa, com identidade, e com a sua própria dose de beleza. Em princípio é normal que tenha a boca da mãe e os olhos do pai. Se foram eles que o fizeram, o que é que isso tem de extraordinário?
Mas atenção, e peço desculpa se não fui claro, isso uma questão diferente de haver ou não bebés recém-nascidos que são lindos! Só se consegue começar a desenhar árvore genealógica do bebé lá para os 3 meses ou assim. Antes disso, a mim pelo menos custa-me distinguir o nariz de uma toupeira do nariz de um rato de esgoto. Apareceram logo as mães, a dizer que é mentira, que os próprios bebés eram lindos ainda dentro da barriga e não sei quê... não faz sentido. Não são. Só aos vossos olhos. É das hormonas. Não é a desculpa que vocês usam para tudo? Eu aposto que se mostrar uma ecografia do meu joelho a uma recém mãe ela diz que o meu futuro bebé vai ser lindo, e que "tem os olhos lindos como o pai". Não... é o menisco fracturado.
Quando tenho lá uma mãe a dizer que não só eram lindos como continuam a ser passados 32 anos, enfim... tenho que pensar se vale a pena continuar a escrever para cépticos.
Eu acho-lhe uma graça...!